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Letras
CEFET-MG

A Efervescência Crítica de “Pobres Criaturas” Ilumina o Cine Theatro Brasil

Quarta-feira, 5 de novembro de 2025
Última modificação: Quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Evento de Extensão Organizado pela professora Joelma Xavier, por estudantes do Curso de Letras do CEFET-MG, e com participação de alunos da UFMG. A união da academia e da sétima arte resultou em um acontecimento de grande sucesso no centro de Belo Horizonte.

por Marco Túlio Atayde Carvalho¹

Alunos da ação de extensão juntos à professora Joelma Xavier e à convidada professora Mariana Mól, após o evento.

Na quarta-feira, dia 20 de setembro, o Teatro de Câmara do histórico Cine Theatro Brasil Vallourec foi palco da sessão “Cinema Comentado: POBRES CRIATURAS EM ANÁLISE”, uma iniciativa de estudantes dos cursos de Letras do CEFET-MG e da UFMG. Sob a orientação e coordenação da Professora Joelma Xavier, o projeto não apenas exibiu o aclamado filme “Pobres Criaturas”, de Yorgos Lanthimos, mas o alçou a um objeto de rica discussão crítica, proporcionando uma tarde memorável para os presentes.

O evento, que teve início às 13h, atraiu um público seleto e engajado, demonstrando a vitalidade do debate cultural na capital mineira. Cerca de 35 espectadores convidados, somados aos organizadores e à ilustre palestrante – um total aproximado de 60 pessoas –, lotaram o aconchegante Teatro de Câmara, um espaço de história e vanguarda artística da cidade. A experiência cinematográfica se fez tão presente quanto o aprofundamento teórico que se seguiria.

O filme escolhido, “Pobres Criaturas”, é uma obra cinematográfica que tem provocado debates e conquistado vários prêmios, destacando-se pela sua estética exuberante e seu enredo audacioso. A sinopse, que descreve “a incrível história e a fantástica evolução de Bella Baxter, uma jovem trazida de volta à vida por um cientista brilhante e pouco ortodoxo”, já anunciava o aprofundamento em temas complexos como a autonomia feminina, a descoberta do prazer, a moralidade social e a própria natureza humana. Dirigido pelo cineasta grego Yorgos Lanthimos, conhecido por seu estilo singular e por vezes surreal, o longa-metragem é uma releitura moderna e provocativa do mito de Frankenstein.

A exibição, que transportou o público para o universo vitoriano gótico e colorido de Bella Baxter, foi o ponto de partida para a análise. A mediação do debate ficou a cargo dos estudantes Ingrid Vasconcelos e Luiz Fernando, que conduziram a transição da tela para a palavra com desenvoltura e precisão, preparando o terreno para a convidada especial da tarde.

O ápice do evento foi a mesa de debate com a Professora Doutora Mariana Mól. Reconhecida por sua expertise e olhar apurado, a Prof. Dra. Mól, com a exibição do filme ainda fresca na memória de todos, iniciou uma análise que desvendou as múltiplas camadas da obra de Lanthimos. Sua fala se concentrou em como o filme utiliza o fantástico para discutir questões extremamente contemporâneas, como a emancipação feminina, a sexualidade desimpedida e a crítica às estruturas patriarcais que tentam moldar e aprisionar o corpo e a mente da mulher.

A Dra. Mól explorou a jornada de Bella Baxter, desde seu renascimento infantilizado até sua completa autodescoberta e autonomia intelectual e sexual. Ela destacou a forma como o filme subverte expectativas e desafia o espectador a confrontar seus próprios preconceitos sobre o que é “natural” ou “aceitável” para o comportamento feminino. A crítica, que em outros contextos têm apontado a obra como excessiva ou grotesca, na análise da Professora Mól ganhou uma roupagem de necessária provocação artística, um espelho distorcido, mas revelador, da sociedade.

Os estudantes e convidados participaram ativamente, formulando perguntas que iam desde as escolhas estéticas de Lanthimos – como a fotografia em preto e branco inicial e a explosão de cores posterior, ou a trilha sonora excêntrica – até as implicações filosóficas do roteiro. A discussão se aprofundou na comparação entre o filme e o romance original de Alasdair Gray, demonstrando o rigor acadêmico e a paixão pela pesquisa que norteiam os cursos de Letras do CEFET-MG e da UFMG. A forma como a personagem Bella adquire conhecimento, questiona a moralidade e experimenta a vida sem o véu das convenções sociais foi um dos pontos altos do debate, gerando reflexões sobre a liberdade de ser e o direito à experimentação.

O sucesso do “Cinema Comentado” reforça a importância de parcerias interinstitucionais como a firmada entre o CEFET-MG, a UFMG, a BV Licenciamento Audiovisual e a Fundação Cefet Minas. A Professora Joelma Xavier e sua equipe de alunos demonstraram um senso de organização e curadoria apurados, comprovando que a extensão universitária é um canal essencial para democratizar o acesso à cultura e ao pensamento crítico de alta qualidade. Ao levar um filme de grande impacto, como “Pobres Criaturas”, para ser discutido em um ambiente de excelência acadêmica e em um local tão emblemático quanto o Cine Theatro Brasil, o projeto cumpriu seu objetivo almejado.

A tarde de 20 de setembro não foi apenas uma sessão de cinema, mas uma verdadeira aula de Letras, Linguagens e Crítica. O evento se consolida como um modelo de como a academia pode e deve dialogar com a sociedade, utilizando a arte como ponto de partida para a formação de indivíduos mais críticos, questionadores e culturalmente conscientes. Que venham as próximas edições, mantendo viva a chama do debate e da paixão pela sétima arte e pelo conhecimento.

Da esquerda para a direita, a aluna extensionista Gabriela Barbosa, a professora Joelma Xavier e a professora Mariana Mól, após o evento

Ficha técnica do filme “Pobres criaturas”

Título Original: Poor Things
Ano de Produção: 2023
Direção: Yorgos Lanthimos
Roteiro: Tony McNamara (Baseado no livro de Alasdair Gray)
Gênero: Comédia, Drama, Ficção Científica, Fantasia
Duração: 141 minutos (2 horas e 21 minutos)
Países de Origem: Estados Unidos, Reino Unido, Irlanda
Classificação Indicativa: 18 anos
Elenco Principal: Emma Stone (Bella Baxter), Mark Ruffalo (Duncan Wedderburn), Willem Dafoe (Dr. Godwin Baxter), Ramy Youssef (Max McCandless).
Prêmios de Destaque:
- Oscar 2024 (4 vitórias): Melhor Atriz (Emma Stone), Melhor Design de Produção, Melhor Figurino, Melhor Maquiagem e Penteados.
- Globo de Ouro 2024 (2 vitórias): Melhor Filme – Musical ou Comédia, Melhor Atriz em Filme – Musical ou Comédia (Emma Stone).
- BAFTA (5 vitórias): Incluindo Melhor Atriz Principal (Emma Stone) e Melhor Figurino.
- Festival de Veneza: Leão de Ouro (Melhor Filme).

Dados bibliográficos do livro “Pobres criaturas”

Título Original: Poor Things
Autora: Alasdair Gray
Data da primeira publicação: 1992
Versão traduzida para o português:
Casa editorial: Cultura Editora
Tradução: Luana Castro Azeredo (Pronto A Editar Atelier)
Revisão: Daniela Maciel
Paginação: Gráfica 99
Capa: Poor Things film artwork 2023 20th Century Studios
Adaptação de capa: Ana Gaspar Pinto
ISBN: 978-989-577-096-0
1° EDIÇÃO: Junho de 2024
Impressão e acabamento: Eigal - Indústria Gráfica S.A.
Depósito legal: 531354/24

1. Graduação em Letras pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG). 4o período, noturno.